Cordel da Igreja Batista de Cachoeira

O início


No sítio Cachoeira do Salobro,
na cidade de Feira nova,
Nasce a Igreja Batista de Cachoeira,
na qual tem uma bela história.

A história começa com a força,
Da irmã Felicidade Cordeiro,
Membro da igreja de Recife,
E auxiliar do missionário verdadeiro.

Ela era fervorosa evangelista,
Com um coração repleto de ardor,
Vendia frutas durante o ano,
Economizava para cumprir seu labor.

Nas férias, partia para o interior,
Levando consigo a mensagem divina,
Vendendo Bíblias e semeando,
O Evangelho de Cristo, que ilumina.

Humilde e com pouca instrução,
Ela memorizava versos sagrados,
Recitava com devoção e paixão,
Seu amor por Deus era consagrado.

Numa visita a Nazaré da Mata,
No ano de 1898, encontrou,
Com Inocêncio Barbosa, fazendeiro,
Um encontro que o destino marcou.

Enquanto isso, Hermenegildo,
em Cachoeira situava-se o seu lar,
Comprou uma Bíblia em Limoeiro,
E seu amigo quis lhe escutar.

Inocêncio, cheio de alegria,
Falou da irmã Felicidade com amor,
Sugeriu que ela fosse levada,
À casa de Hermenegildo, em louvor.

Felicidade foi conduzida,
Para a casa de seu novo amigo,
Ali, ela explicou o Evangelho,
E transformou vidas num abrigo.

Na família de Hermenegildo,
Com parentes e o genro ao lado,
Todos foram ao encontro de Jesus,
Num momento divino abençoado.

Entzminger, o missionário,
Testemunhou sobre Felicidade Cordeiro,
“Uma mulher de valor inestimável,
Que serviu a Cristo com louvor verdadeiro.

Mesmo analfabeta e humilde,
Ela se destacava na igreja,
Seu amor pelo Evangelho era intenso,
Um exemplo de fé na peleja.

Seu cuidado pela redenção de almas,
Era notável e sem igual,
Muitas vidas do abismo resgatadas,
Por seu trabalho, além do normal.

Na reorganização da igreja,
No Recife, com treze membros fiéis,
Felicidade tomou a primazia,
Honrando a causa do Mestre com seus papéis.

Ela pelejou a boa peleja,
Com coragem e fé indomável,
Completou a sua jornada,
E manteve a sua fé inabalável. ”

Assim iniciou a Igreja Batista de Cachoeira,
Com história grandiosa,
Graças à irmã Felicidade Cordeiro,
Uma mulher de fé valorosa.

Que sua memória seja eterna,
E seu exemplo inspire a multidão,
A Igreja Batista de Cachoeira,
Segue em frente, firme em sua missão.

A organização

Na Casa de Hermenegildo Xavier,
No dia oito de dezembro,
Na assembleia organizada,
A Igreja Batista foi nascendo.

William Edwin Entzminger,
Missionário de coração ardente,
Presidiu a reunião sagrada,
Com fé e zelo transcendente.

Lá estavam presentes,
Felicidade Cordeiro, a irmã,
Hermenegildo e sua esposa Rita,
E mais 38 almas de fé cristã.

Entre eles, irmãos de Nazaré da Mata,
E da cidade de Recife também,
Na assembleia arrecadou 400$000 réis,
Para a construção do templo sem desdém.

Foi Hermenegildo, valente e forte,
Que transportou os tijolos com afinco,
Por meio quilômetro de distância,
Levando-os com dedicação e carinho.

Assim, com a ajuda da comunidade,
Ergueram o templo com bravura,
No início do ano de 1900,
Concluído com fé e ternura.

Nesse templo, de acordo com a Ata nº 3,
A comunidade se reunia com ardor,
Semana após semana, dedicados,
Louvor e adoração em seu interior.

O trabalho batista em Cachoeira,
Lembrado nas memórias do pastor,
William Edwin Entzminger,
Com amor, descreve com fervor:

“Minhas visitas à nova igreja,
Em Cachoeiras, eram constantes,
Era grande a aceitação da mensagem,
E nutríamos esperanças vibrantes.

Naqueles domingos de manhã,
À frente da casa de hermenegildo eu estava,
Contemplando a cena emocionante,
Crentes marchando numa fé que me alegrava.

Grupos multicores, vindos de todos os lados,
Interessados e cheios de devoção,
Em direção ao santuário de fé,
Rumo à casa de culto, em comunhão.”

Assim nasceu a Igreja Batista de Cachoeira,
Com coragem, esforço e devoção,
Uma história de fé e união,
Que ecoa no coração dessa nação.

A perseguição

Na cidade de Glória do Goitá,
Havia um líder político a governar,
O senador João da Costa Bezerra,
Compadre de Hermenegildo a caminhar.

Mas algo mudou no coração do senador,
Que se tornou perseguidor fervoroso,
Aos congressistas evangélicos da cidade,
Impiedoso, com atitudes de um odioso.

Os primeiros anos da nova religião,
Trouxeram ataques e violência,
Um grupo de perseguidores cruéis,
A mando do senador que tinha muita influência .

No final do mês de maio de 1900,
Casas e móveis da igreja foram destruídos,
Cujo foi recém-comprada em Recife,
Vandalizada, deixando também os fiéis feridos.

Na casa de Hermenegildo chegaram,
Tomaram as bíblias e impuseram medo,
Ordenando o fim dos cultos em sua casa,
Mas ele resistiu, firme em seu enredo.

O senador João da Costa, implacável,
Mandou seus capangas numa investida,
Com ordens de uma devastação completa,
Para calar os crentes na jornada sofrida.

Rita Xavier, Esposa de Hermenegildo,
Às vésperas de dar à luz, previu o mal,
Pediu ao marido que fossem se esconder,
Na mata, com os filhos, fugindo do vendaval.

Mas Hermenegildo não podia abandonar,
Sua esposa em estado tão precário,
Eles voltaram para casa, enfrentando o inverno,
Alternando vigílias, num sono necessário.

O pressentimento de Rita se concretizou,
Num domingo à noite, infernal alarido,
Um grupo numeroso se aproximou,
Causando ruína, assolação, desmedido.

Apavorados, todos buscaram fugir,
Restando apenas Rita no leito a temer,
Pensando que a mulher que dera à luz,
Não seria alvo do ódio a se estender.

Mas na casa de Hermenegildo, invadiram,
Portas e janelas derrubaram com violência,
Dispararam tiros, gritando “Mata! Mata!”,
Incendiaram a sala, trazendo a desgraça intensa.

Móveis, roupas, tudo foi destruído,
Duas selas, três cangalhas, máquinas de costura,
Café, açúcar, farinha, em ruinas se tornaram,
E as casas de farinha também na agrura.

Rita, foi forçada a beber aguardente,
Num momento em tormento inumano,
Chicotearam-na, seu corpo sangrando,
Ameaçando-a com fogo, um destino insano.

Ela resistiu, bravamente enfrentou,
Protegendo o esconderijo do marido,
João Cardoso impediu a tragédia,
Salvando-a do fogo, com ato destemido.

Depois de tanto castigar Rita,
Seu filho de apenas oito dias de vida,
Dormia tranquilo em sua rede estendida,
Mas os capangas fizeram o mal, sem dó nem medida.

Os perseguidores surgiram de repente,
Cortaram as cordas da rede, sem pensar,
E o pobre menino caiu no chão,
Num ato frio e cruel, sem hesitar.

A mãe, ao ver seu filho caído no chão,
Sentiu um desespero tomar seu coração,
Mesmo fraca e cansada,
Ela o pegou nos braços, cheia de aflição.

Debaixo de chicote Rita saiu,
Desprotegida, sem nada a lhe amparar,
Na mata fechada, precisou fugir,
E naquele momento, seu medo a dominar.

Atordoada pela dor, enfrentou a escuridão,
Mas não desistiu, não abriu mão da missão,
Proteger seu filho, era seu único pensamento,
Em meio a tantos desafios e solidão.

Somente ao raiar do dia,
Do açude, enfim saiu,
Hermenegildo, preocupado,
Sua família não mais viu.

Chegou em casa, desolado,
Ninguém ali estava mais,
Encontrou sua esposa quase morta,
No açude, tantos ais.

No dia dezessete de junho,
Do ano de mil e novecentos,
Hermenegildo ao governador clamou,
Justiça e segurança em momentos.

Arruinados em corpo e alma,
E também na parte financeira,
Migraram para Nazaré da Mata,
Levando a dor que era tão séria.

Quinze dias após a tragédia,
Sepultaram o filho amado,
David, que pela queda pereceu,
Saudades ficaram do pequeno adorado.

A igreja de Cachoeira,
Já não tinha paz em momento algum,
Muitos partiram em busca de abrigo,
Em Caruaru, Campina Grande e Garanhuns.

As autoridades tardaram em agir,
Providências que não vieram à toa,
A igreja se desfez, se dispersou,
Mas um grupo seguiu a crença que ecoa.

Na casa do Diácono Joaquim Salustiano,
Escondidos, secretamente louvavam,
À noite, com candeeiros acesos,
uns oravam, enquanto outros vigiavam.

Na frente da casa, irmãos alertas,
De tocaia ficavam e sem destaque,
Se vissem perigo se aproximando,
Escondiam-se, prontos a cada ataque.

Assim os cultos aconteciam,
Sussurrados em meio ao breu,
Iluminados pela luz dos candeeiros,
Deus ouvia o clamor que era seu.

Em meio a discussões e louvores,
Planejavam as obrigações da congregação,
Enquanto irmãos guardiões vigiavam,
e até na mata dormiam prontos para a ação.

Apesar dos conflitos e das dores,
Alguns bravos ficaram na região,
Persistiram na fé clandestina,
Enfrentando o medo com determinação.

Cachoeira, terra de lutas,
Onde a esperança não iria acabar,
Os irmãos seguiram em frente,
Com fé e coragem, sempre a reinar.

A Reorganização

No ano de 1923, uma assembleia,
Reorganizou a congregação com fé,
Na ata número dois, a data que clareia,
23 de setembro, o dia que se lê.

Os cultos, então, se reuniam,
Na casa do diácono Joaquim,
Com gratidão, a ele se bendiziam,
Por oferecer seu lar, com amor sem fim.

Mas a igreja, em seu crescimento,
Decidiu voltar ao templo antigo,
Anexo à casa de Hermenegildo, no momento,
Desde 1900, esse templo foi um abrigo.

Hermenegildo partiu para o Recife,
Deixando a comunidade para trás,
Seu filho Bernardino, um legado que se vê,
Assumiu as terras e responsabilidades, de paz.

Bernardino, generoso em seu agir,
Doou um terreno para a construção,
Da igreja de concreto, a surgir,
Contribuiu com seu coração.

Em 2 de agosto de 1930,
O templo novo foi inaugurado,
Na fé e na esperança, se fez crer,
Um marco que ali foi abrigado.

Embora Bernardino desejasse doar,
O terreno e o templo à congregação,
Por uma escritura de terra, se fez pagar,
Em 1932, dois contos de réis, uma transação.

Assim, a ata registra com precisão,
A história da igreja em seu caminhar,
Devoção, construção e doação,
Um legado de fé a se celebrar.

Na Igreja Batista de Cachoeira,
O cordel eterniza essa memória,
Que perdure a fé, a cada vez que se leia,
Nessa linda e abençoada trajetória.

Que essa igreja siga sua jornada,
Com fé, união e esperança no coração,
E que a história da Igreja de Cachoeira,
Seja contada e preservada de geração em geração.

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